Episodes

  • Melhores Leituras de 2025
    Dec 18 2025

    #131 – Já reparou que o tempo se dilata quando lemos? Por aqui, 2025 teve cinquenta meses, e resolvi dividir com você algumas das leituras mais intensas e absorventes que fiz desde o remoto mês de janeiro.

    Indico as melhores porque sei que, para escrever bem, precisamos da companhia de bons livros. E para seguirmos motivados, nada como leituras que orientem caminhos.

    Foram histórias em quadrinhos, ensaios, romances. Clássicos e contemporâneos. Não me pautei muito em categorias, nacionalidades prévias. Eu me servi do que gostava. Segui o apetite.

    Se quiser, preparei aqui uma pequena aula onde me debruço sobre algumas dessas leituras.

    E você? Quais foram as suas melhores leituras de 2025?

    Show More Show Less
    18 mins
  • Onde o autor deve estar?
    Dec 4 2025

    Publicar não é uma ciência exata. Mas suas variáveis são mais ou menos previsíveis.

    Cada livro que escrevi cumpriu um caminho distinto no mundo das editoras, percorreu algumas etapas específicas. Publicar por uma casa editorial pequena não é o mesmo que lançar o seu livro por uma editora grande, ou ter a sua obra divulgada pelo Sesc ou pela Funarte.

    Nesses mais de 20 anos publicando, percorri diversos caminhos. E posso dizer que, apesar das especificidades, existem algumas etapas necessárias – e outras altamente recomendadas – pelas quais você deverá passar.

    Antecipar essas etapas e saber o que esperar pode te ajudar muito na hora de fazer boas escolhas e garantir que seu livro seja bem conduzido e bem editado.

    No novíssimo episódio de Prelo, conto para você as etapas da publicação.

    Show More Show Less
    21 mins
  • Biomas Afetivos: Leituras de Clarice Lispector, Carolina Maria de Jesus e Augusto de Campos – uma conversa com Reynaldo Damazio
    Nov 21 2025

    #129 – “É com uma alegria tão profunda. É uma tal aleluia. Aleluia, grito eu, aleluia que se funde com o mais escuro uivo humano da dor da separação mas é grito de felicidade diabólica. Porque ninguém me prende mais. Continuo com capacidade de raciocínio – já estudei matemática que é a loucura do raciocínio – mas agora quero o plasma – quero me alimentar diretamente da placenta. Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido. O próximo instante é feito por mim? Ou se faz sozinho? Fazemo-lo juntos com a respiração. E com uma desenvoltura de toureiro na arena.”

    Essa é a abertura de Água Viva, da Clarice Lispector, um dos poucos livros da autora que felizmente ainda não li. Ia copiar só um trechinho, mas deu vontade de percorrer o parágrafo todo.

    Imagine o que foi ler algo assim na adolescência, o abalo tectônico que representou na formação da personalidade, ainda uma argila úmida. Clarice, toda grande literatura formalmente disruptiva, abre em nós uma fissura no tecido discursivo, na viscosidade dos lugares comuns, nos discursos motivacionais e técnicos, na arenga ameaçadora das escolas, no sussurro neurótico das novelas domésticas, no esforço sempre vão dos adultos de domesticar a perturbação selvagem daqueles anos perigosos.
    Foi o meu caso, quando li “Amor”, quando li “Perto do Coração Selvagem”, que Clarice escreveu quando tinha apenas 17 anos. E foi também o que aconteceu com o meu amigo Reynaldo Damazio. A palavra nunca mais seria a mesma.

    O Reynaldo – poeta, editor, jornalista, coordenador de literatura na Casa das Rosas, em São Paulo, e colaborador das formações do nosso canal, Escrita Criativa – foi iniciado por Clarice Lispector. E por Carolina Maria de Jesus. E por Augusto de Campos. E desde então uma verdade profunda sobre a poesia acompanhou a sua vida e a sua própria escrita.

    O Reynaldo é também uma das minhas amizades mais antigas na literatura. É o grande amigo na viagem a Alto Paraíso que retratei em “Divã: jangada”, terceiro ensaio de “Baleias no Deserto”. É dele o ensaio no fim de "Documentário", que a Funarte publicou. São vinte anos de prosa, leituras e colaborações. E nesta semana, quero convidar você a sentar-se comigo e com o Rey em um papo sobre como os anos inaugurais da adolescência ajudaram a compor o sujeito que lê e que escreve.

    Reynaldo Damazio nasceu em São Paulo. Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela USP, com especialização em publicidade e gestão cultural; é editor, crítico literário, tradutor, curador de eventos literários, mediador de oficinas de criação e supervisor de conteúdo e formação nos museus Casa das Rosas, Mário de Andrade e Guilherme de Almeida. Autor de O que é criança (Editora Brasiliense), Nu entre nuvens (Ciência do Acidente), Horas perplexas (Editora 34), Trilhas, notas & outras tramas (Dobradura Editorial), Crítica de trincheira: resenhas (Giostri Editora) e Movimentos portáteis (Kotter Editorial), entre outros. Criou em 2012 o programa formativo Clipe (Curso Livre de Preparação de Escritores), na Casa das Rosas, que coordena até hoje, e foi co-curador das exposições “Um corpo estanho: Centenário de publicação de A metamorfose”, em 2015, “As ideias concretas: Poesia 60 anos adiante”, em 2016, e “Barroco em trânsito”, em 2017, todas na Casa das Rosas.

    Show More Show Less
    1 hr and 24 mins
  • O que tem funcionado no mundo da publicação?
    Nov 6 2025

    #128 – Muita coisa mudou no mundo editorial nos últimos vinte anos.

    Por conta de um certo saudosismo ou de uma certa romantização, temos dificuldades em enxergar isso.

    Práticas de divulgação, debate e publicação praticamente se extinguiram. O papel do jornal e da livraria diminuiu, as editoras se multiplicaram. Aquilo que funcionava há vinte anos não funciona mais.

    Ao mesmo tempo, muitas possibilidades surgiram no universo da publicação, incluindo aí a autopublicação, o financiamento coletivo, o print-on-demand, a criação de uma plataforma autoral. Autor e leitor têm a chance de manter um diálogo regular que, há vinte anos, seria impensável.

    Se é verdade que os nossos esforços devem se concentrar na própria obra — na criação, na prática regular da escrita — tampouco podemos ignorar o mundo em que estaremos lançando esse livro e os meios pelos quais isso é feito.

    É esse o tema do novo episódio de Prelo: o que tem funcionado no mundo da publicação.

    Vamos conversar sobre:

    √ Os recursos e possibilidades da publicação tradicional e da autopublicação, e por onde devo seguir com o meu próximo livro;

    √ Por que a autoria — estilo, subjetividade, histórias particulares — será cada vez mais valorizada no mundo da IA;

    √ Os recursos que utilizei em Baleias no Deserto para vender centenas de exemplares na pré-venda;

    √ Como as nossas primeiras leituras pautaram o nosso caminho na literatura e no modo como enxergamos a escrita hoje.

    Um excelente episódio!

    Show More Show Less
    34 mins
  • O escritor fora: crônica da mudança e lembrança de Roberto Bolaño
    Oct 23 2025

    #127 – Eles estão por fora.

    Não participam. Fazem questão de não saber. Estão envolvidos com suas próprias coisas. Absorvidos por sua militância particular.

    São indiferentes à polêmica mais circunstancial, ao sobe e desce dos palanques, dos congressos do ofício. “Você viu?” “Soube do que disse ele, do que disse ela?” Não, não sabem. Você vai ter de contar. As colunas do jornal? O lançamento blockbuster, aquele debate em que todo mundo irá se envolver por vinte e cinco dias corridos? Ele ouviu falar qualquer coisa, sim. Você lhe conta, ele opina. Segue, e é isso.

    E esquece do assunto, assim como você se esquece dele.

    Uns constroem devagar sua biblioteca. Veem os pais envelhecer. Participam dos aniversários.

    E há esses outros, dos quais temos poucas notícias.

    Foi sua escolha, afinal. Ele partiu. Pode voltar uma, outra, uma infinidade de vezes. Mas nosso amigo, nossa amiga, parecem não se contentar com a novela cotidiana dos conhecidos e familiaridades.

    É uma escolha difícil: afinal, a trama social é o que nos sustenta. É o outro que nos oferece os parâmetros. O espaço-tempo, são os outros que ancoram.

    Eles talvez vivam em um tempo sem tempo, em um lugar sem lugar. Quem sabe?

    De quem estamos falando? Ora.

    É do fotógrafo que passa as noites fumando, resmungando em mandarim, jogando mahjong e tirando fotos dos becos escuros de Xangai. É a bióloga que investiga o comportamento dos fungos que nascem depois dos incêndios em Oaxaca. É o músico do cruzeiro transatlântico, que aprende a viver sobre as águas, e que se sente só apenas quando volta para casa.

    Estamos falando das escritoras e dos escritores que não participam do meio. Que estão em outro lugar, fazendo um bolo e tomando um café em um sítio, cuidando da sua horta. Vão começar agora a leitura de um livro que descobriram em uma livraria de bairro e do qual quase ninguém ouviu falar.

    Estou falando de escrita, de viagem, de algo maior que a literatura.

    Show More Show Less
    21 mins
  • Como se Faz um Podcast: Jornalismo Narrativo & Pesquisa – Uma Conversa com Fábio Corrêa
    Oct 10 2025

    #126 – Pouca gente sabe que, ao longo de dois meses neste ano de 2025, contei com a ajuda de um excelente jornalista para a preparação deste Prelo. E digo que já estava ficando mal-acostumado quando Fábio Corrêa disse que seu projeto pessoal de podcast tinha sido selecionado para financiamento e subsequente apresentação em nenhum outro lugar senão na Deutsche Welle (DW), emissora internacional de rádio, TV e internet da Alemanha, com foco em jornalismo independente e programação multicultural.

    O Fábio foi para a Alemanha e a gente não se falou mais, até que chegou ao meu conhecimento a notícia do lançamento do primeiro episódio de O Pulo de Miguel. Semana passada, saí para correr em um parque aqui perto, baixei o episódio e, trinta minutos mais tarde, ainda meio sem fôlego por conta da corrida, estava deixando uma mensagem para o Fábio, convidando-o para uma conversa. Para a minha – para a nossa – alegria, o Fábio topou conversar sobre a história do programa, sobre como se monta um podcast narrativo, os meandros do trabalho de pesquisa e as várias surpresas que encontrou pelo caminho.

    O Pulo de Miguel é um programa de seis episódios, no formato jornalístico, mas também muito autoral. Porque o Fábio, além de jornalista, é escritor, músico, criador de HQs. E a história que ele encontrou – a desse jovem brasileiro que saltou o Muro de Berlim, foi espionado pela Stasi e morreu na Índia aos 30 anos, em condições jamais inteiramente esclarecidas – é desses achados brilhantes que viram um tesouro nas mãos de um bom narrador.

    Clique aqui para escutar O Pulo de Miguel – DW Revista

    Fábio Corrêa é jornalista, nascido em 1985 em Belo Horizonte. Formou-se em jornalismo pela PUC Minas, em 2007. Viveu em Berlim entre 2008 e 2013, onde concluiu o mestrado em Antropologia pela Freie Universität. Desde 2015, é colaborador da DW Brasil, com sede em Bonn.

    Trabalhou nos jornais Estado de Minas e O Tempo, ambos de BH, e já publicou reportagens em diversos veículos, como piauí, BBC Brasil, Repórter Brasil, Folha e O Globo, no Brasil, e nos berlinenses Der Tagesspiegel e taz. É também fellow das fundações alemãs IJP e Heinz-Kühn, onde foi bolsista e jornalista convidado.

    Esteve à frente do podcast O Tempo Hábil, do jornal O Tempo, e colaborou em 2025 com O Prelo, do Tiago Novaes.

    Acaba de lançar a série de podcasts "O Pulo de Miguel", em seis episódios, pela DW Brasil, sobre a história do brasileiro que pulou o Muro de Berlim ao contrário.

    Mas Fábio Corrêa também se aventura paralelamente no mundo artístico. É músico, compositor e produtor. Em 2021, produziu e lançou o álbum 'Dilúvio/Deserto', de suas composições, pela banda Dada Hotel, na qual assume os vocais, guitarras e teclados. Já com escritor, publicou, em 2022, pela editora Pantagruel (independente) e em parceria com o artista gráfico Fabiano Azevedo, o HQ "O Último Táxi", cujo roteiro escreveu. "O Último Táxi" é uma ficção distópica passada em uma Belo Horizonte do futuro, na qual vive o protagonista, que se depara com um rádio que toca músicas - e notícias - do passado.

    Clique aqui para escutar O Pulo de Miguel – DW Revista

    Show More Show Less
    1 hr and 4 mins
  • Impulsos Limitantes: Entendendo os Padrões que Destróem o que Estamos Tentando Construir
    Sep 25 2025

    #125 – Pensar não é fácil. Muitas coisas entram no caminho.

    Nosso ego. Nossa bile. A convenção social. A inércia. Tudo entra no caminho.

    Pensar não é fácil. Obedecer é fácil. Dizer sim quando todos estão dizendo sim.

    E no entanto, para sermos autores, precisamos responder pelo que dizemos.

    Não é à toa que muitos autores reagiram de formas que pareceram incompreensíveis aos seus pares em determinado tempo.

    Quem se lembra dos silêncios desconfortáveis de Clarice numa entrevista?

    Quem se lembra da reação de Doris Lessing quando a imprensa a aguardava na frente de casa, para anunciar a ela que ela havia recebido o Prêmio Nobel?

    Autores não podem evitar.

    Porque os bons, os verdadeiramente bons, pensam mais, e por mais tempo, nas coisas que os outros só reproduzem.

    E quanto mais tempo você olha o verde, mais ele irá parecer com o vermelho.

    Quanto mais tempo você come o doce, mais demarcadas as notas salgadas.

    O que faz um bom livro é o pensamento que o engendrou.

    E para pensar, precisamos sobrelevar os padrões às vezes viscerais que nos arrastam, que desfazem o que estamos tentando fazer, que nos boicotam impulsivamente.



    Show More Show Less
    41 mins
  • Massa Crítica: A Escrita Inevitável
    Sep 4 2025

    #124 – Há um momento em que a escrita se torna inevitável.

    Em que o esforço para escrever se dissipa no hábito.

    Não é que o processo se torne automático. Enquanto gesto, ele será sempre ativo.

    Ele preservará sempre a sofisticação, o cuidado necessário para se desenvolver. Ele continuará dinâmico, animado por suas próprias metamorfoses.

    Mas algo se dá, e é quase como se o autor, a autora, fossem interlocutores da obra — não donos, mestres ou proprietários.

    Dirigimo-nos à nossa criação com uma pergunta, uma sentença. E a obra nos responde.

    Há um momento em que a escrita não se torna apenas possível.

    Ela se torna inevitável.

    No novo episódio do Prelo, refletimos sobre o instante em que a escrita abandona o estágio de mera possibilidade. Como reconhecer esse ponto de virada? E o que ele revela sobre o processo criativo?


    Show More Show Less
    29 mins