Eu, minha mãe e minha dor de barriga | Desculpa o Transtorno #03 com Chris Dunker cover art

Eu, minha mãe e minha dor de barriga | Desculpa o Transtorno #03 com Chris Dunker

Eu, minha mãe e minha dor de barriga | Desculpa o Transtorno #03 com Chris Dunker

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Desculpa o Transtorno é um exercício em que a escritora Tati Bernardi e o psicanalista Christian Dunker encenam uma situação de supervisão lendo relatos anônimos.

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Tatiane Bernardi @tatibernardi
Christian Dunker @chrisdunker

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canaldatatibernardi@gmail.com

Carta

"Me chamo Suzanne, eu sei, mesmo o nome da doida que matou os pais, mas eu sou legal. Mas é justamente sobre meus pais que eu quero falar. Sobre minha mãe, na verdade. Tem uma conexão doida com a minha mãe. Porque é uma conexão feita pelo estômago e não tem nada a ver com receitas de família, comidas gostosas. Tem a ver com enjoos, dores e mal-estares em geral. Tudo no 'estômado'. Quando eu era criança sentia dor de barriga, enjoo, e ia pra cama da minha mãe. Ela cuidava de mim. Às vezes, uma madrugada inteira, coitada. Porque eu vivia com enjoo e dor de barriga. O mais doido é que minha mãe também vivia com enjoo e dor de barriga. E como morávamos somente eu e ela, ela me acordava muitas vezes, queria minha ajuda. E eu era criança. Uma vez ela passou tão mal, tava com cólica, acho. Ela foi vomitar e desmaiou em cima de mim. Daí, sabe o que eu fiz? Comecei a ver que eu ia desmaiar também. E tive que pedir ajuda pra ela. Mas era ela que tava desmaiada, entende? Depois, adolescente, eu às vezes estava numa festa e passava mal. Caía a minha pressão por causa do calor, me dava enjoo, ou a bebida me fazia mal. Alguma amiga dizia calma, eu te ajudo. Mas eu pegava um táxi correndo, uma carona, eu queria minha mãe. Adulta, ainda chamei minha mãe algumas vezes quando eu passava mal e caía a minha pressão. Uma vez mandei meu marido dormir em outro quarto e pedi que minha mãe viesse cuidar de mim. Porque eu estava péssima com alguma coisa que comi. Até que um dia eu comecei a preferir meu marido a ela. Foi diferente. Achei que eu tinha finalmente crescido, e que agora ela podia até morrer, que eu não morreria junto. Na minha gravidez isso mudou de novo, eu aprendi a passar mal sozinha, não queria nem ela e nem meu marido. Eu vomitei demais na gravidez e sempre sozinha, eu levava travesseiro, cobertor, tudo pro banheiro e cuidava de mim. Afinal eu seria mãe, então minha filha nasceu. E agora eu passo mal quando minha mãe chega. Muitas vezes ela vem aqui e me dá enjoo, mal estar… Porque dispara algo estranho em mim, e não é falta de amor por ela, eu a quero perto. Mas muitas vezes eu tenho esses enjoos perto dela, e perto da minha filha eu tô quase sempre me sentindo muito bem."

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Envie sua carta anônima para:
dotranstorno@gmail.com

Produção
Zamunda Studio

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