Liberdade não é fazer o que quiser. Isso é slogan de propaganda de banco ou frase de adolescente puto. Liberdade de verdade é bem mais desconfortável. É escolher sabendo que vai doer, que vai perder coisa no caminho, que alguém vai te achar idiota por isso — e ainda assim ir.
Se você só faz o que quer quando é fácil, quando ninguém julga, quando não custa nada, isso não é liberdade. É conforto. Liberdade começa quando aparece o preço e você percebe que não tem como fugir da conta.
Tem gente que acha que é livre porque pode escolher o sabor da pizza, o streaming da noite ou o político pra xingar no Twitter. Mas vive obedecendo medo, grana, carência, validação, família, igreja, algoritmo. Troca um dono por outro e chama isso de autonomia. Não é. É só uma coleira mais moderna.
Liberdade externa importa, óbvio. Não ser preso, censurado, ameaçado, explorado. Quem passa fome não escolhe, sobrevive. Quem vive sob violência não decide, reage. Falar de liberdade sem falar de condição material é papo vazio. Mas mesmo quando o mundo deixa, a prisão continua por dentro.
A pior prisão é interna. É quando você não aguenta ficar sozinho com a própria cabeça. Quando age no automático. Quando repete frases que nunca pensou. Quando vive uma vida que não escolheu só pra não decepcionar ninguém. Aí você até anda solto, mas por dentro tá algemado.
Ser livre é perigoso porque obriga a assumir autoria. Não dá pra culpar Deus, o sistema, o passado, o signo, a infância, o trauma — embora tudo isso exista. Liberdade começa quando você diz: “ok, isso me moldou, mas o próximo passo é meu”. E isso assusta pra caralho.
Por isso tanta gente prefere abrir mão da liberdade. É pesado demais decidir quem você é. É mais fácil seguir uma cartilha, obedecer um líder, vestir uma identidade pronta. A liberdade dá vertigem, porque não promete final feliz — só honestidade.
Liberdade também não é ausência de limites. É escolher seus limites. É dizer “isso não” mesmo quando todo mundo diz “vai”. É bancar consequências sem se vitimizar. Só é livre quem pode responder pelo que faz.
No fim, liberdade é isso: não ser empurrado pela vida como um objeto. É levantar, olhar o caos, e dizer “eu escolho como vou atravessar isso”. Mesmo errado. Mesmo sozinho. Mesmo com medo.
O resto é conversa bonita pra quem não quer pagar o preço